Recentemente vimos diferenças consideráveis entre duas pesquisas nacionais sobre a eleição para presidente da república do Brasil. Numa primeira pesquisa, realizada no último dia 15 de fevereiro com 3 mil entrevistados pelo PoderData, registro BR- 06942/2022, a diferença entre Lula e Bolsonaro era de 9 pontos percentuais. Enquanto que em outra pesquisa da Quaest/Genial, realizada com 2 mil entrevistados em 3 a 6 de fevereiro, registrada sob o número BR-08857/2022, a distância entre os dois principais candidatos foi de 23%.
O que explica essa diferença? Os resultados encontrados estão bem acima da margem de erro de ambos levantamentos que gira em torno de 2%. O período de coleta foi próximo, uma semana de diferença entre os estudos. A única explicação está no método de coleta. Enquanto uma foi feita pelo telefone, no modelo de gravação, ou seja, sem interação humana. A outra foi feita no modelo tradicional com entrevistas pessoais, face a face.
Portanto, o que justifica os números levando em conta apenas o método de coleta? Antes gostaríamos de explicar os métodos de coleta. Primeiro, ao telefone, utilizando a URA, Unidade de Resposta Audível, espécie de ‘robô’ que liga para os entrevistados e pede que estes respondam uma pesquisa utilizando o próprio teclado. Segundo, a pesquisa tradicional, aquela que um entrevistador devidamente identificado aborda as pessoas, em pontos de fluxo ou no domicílio, pessoalmente e aplica um questionário sobre as eleições.
A explicação vem de uma breve experiência na última campanha eleitoral para as eleições municipais, quando fizemos pesquisas para prefeito de Itabira/MG no ano de 2020. A disputa estava polarizada entre dois candidatos: Ronaldo Magalhães, prefeito a época, e Marco Antônio Lage, candidato de oposição. No primeiro levantamento que fizemos utilizando a URA verificamos que Ronaldo estava apenas 5% a frente do Marco Antônio, isso em 5 de outubro daquele ano.
Dez dias depois o Vox Populi fez uma pesquisa nas ruas e verificou que a diferença era de 23%, para o então prefeito. No mesmo fim de semana repetimos a nossa pesquisa ao telefone e percebemos que o Marco Antônio, desta vez, estava a frente com 3% acima do segundo colocado. Ficamos céticos, como isso poderia ser real? Um instituto de pesquisa renomado como o Vox Populi mostrando uma realidade e nós outra? Fato é que estávamos certos e o resultados nas urnas naquele ano confirmaram a vitória de Marco Antônio com diferença idêntica quem tínhamos calculado semanas antes.
Como isso foi possível? Percebo que, ultimamente, os eleitores nas ruas estão sendo poucos sinceros, devido a polarização política em nosso país, entendo que muitos estão com receio de dar realmente sua opinião. O fato que, quando um entrevistado responde pesquisas eleitorais nas ruas, sejam em pontos de fluxo ou domiciliares, este invariavelmente pode estar acompanhado por pessoas próximas. O contexto pode induzi-lo a responder aquilo que se queira ouvir, um sentimento de maioria, não propriamente a sua opinião em relação ao tema pesquisado.
Enquanto que as pesquisas ao telefone, no modelo de URA, o entrevistado não precisa propriamente dizer, falar, pronunciar sua opinião, apenas digita-la no teclado do seu aparelho. Ou seja, mesmo que haja alguém próximo quando atender a ligação, este não poderá saber em quem o entrevistado “votou”. Outro fato, é que ao responder pelo telefone, a URA simula as urnas, pois ao “votar” você repete o mesmo gesto, não fala e sim digita um número, em silêncio.
Outro aspecto de influencia nos resultados das pesquisas face a face são as abstenções. Na última eleição presidencial chegou a 20%, ou seja, um em cada cinco eleitores não foram votar. Mesmo que uma eventual pesquisa nas ruas faça a pergunta se eleitor vai votar ou não no dia da eleição, e o DataMG fez este estudo outras vezes, percebo que, com o receio de algum “julgamento”, o eleitor em grande escala diz que irá votar. Porém nada o impede de não comparecer e justificar seu voto após o pleito eleitoral.
Enquanto nas pesquisas por URA, pode-se diminuir a influência da abstenção, a primeira pergunta que se faz é se a pessoa quer ou não responder a pesquisa; aperte 1 se sim e 2 se não. Portanto presume-se que, quem não queira responder, escolha a opção 2. E quem realmente participar da pesquisa, este certamente irá comparecer no dia da eleição.
Sendo assim, concluímos que as pesquisas por URA vieram para ficar e muitos analistas podem ser surpreender com os resultados das próximas sondagens e das urnas neste ano de 2022.
Adilson Simeão - Diretor do DataMG